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Ao subir a montanha, Makalister se culpava por não trazer um rádio consigo, teria feito o Instituto inteiro chegar em minutos ali. Com mais Culters nenhuma ameaça seria tão grande que não pudesse ser resolvida, até mesmo o Um provavelmente. Mas quem iria dizer que ela era nascida de um ritual que a causou toda essa sofrida vida e a trouxe ao meio do nada, ao mesmo tempo que se juntava com os mistérios de um passado da qual ela nunca achou que faria parte? Talvez um antigo xamã das tribos pré-viscerais que entendiam os caminhos do espírito e das almas saberia lhe dizer isso, talvez, mas não havia escapatória. Ali estava, presa em uma montanha com pessoas desconhecidas lutando contra um plano desconhecido em um frio desgraçado à invadindo a cada inspiração. Olhou para Sabbath que se arrependia pela primeira vez na vida e Xamã que tentava ao máximo controlar sua dor fantasma e desespero. 
Eram realmente um bando de Atormentados mesmo. Esperava encontrar o corpo de Viratempo quando voltasse ali com o Instituto, o devolveria para o que podia ter restado de sua família, e se eles não quisessem ou não existissem, ela se certificaria que teria um bom descanso junto aos outros do Instituto no Cemitério Rosangela dos que Partiram, onde até ela iria ao morrer. 
Ao sair dali talvez chamaria Sabbath para sair, situações traumáticas sempre unem mais as pessoas, sem falar que ela já sabia o quão bom ele era na cama. Mandaria uma carta de convocação de teste no Instituto para Xamã, ele parecia um homem aplicado e criativo quanto à solução de problemas. É... Tinha se decidido, Cream não ia acabar com ela tão facilmente. Teria que tentar um pouquinho mais forte. 
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Nasci em Nova Orleans, mas me mudei para cá antes de saber que eu mesmo existia. Quando desci a montanha uma vez com minha mãe e a vi lá de baixo minhas pupilas estouraram de beleza. Não conseguia acreditar que morava lá em cima com minha família! Era muito mais belo do que qualquer local que um livro pudesse me descrever, peço perdão a Shelley e aos poetas antigos, mas nada é mais doce e amargo que a minha Montanha Negra! 
Estudei todos os antigos e li todos os contemporâneos, a grande biblioteca de meu pai encheu-me do conhecimento que era necessário para me tornar alguém culto e os cuidados de minha mãe me ensinaram o respeito e o amor ao próximo. Sendo um filho aristocrático de uma família rica a muito esquecida pela história, o mínimo que esperavam de mim era manter-me nas sombras e cuidar dos negócios familiares, algo que fiz com um prazer um tanto inquietante para alguém como eu. 
Mesmo que eu gostasse do árduo trabalho de minha família, sempre tive outros planos para mim. E para explicar isso, tenho que voltar alguns longos anos, para lhe contar como o conheci.  
Meu estelar amigo, Heimm. 
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Ao primeiro vislumbre da mansão o coração de Xamã quis parar, mas sua obrigação o fez manter o passo com os outros. Makalister olhou aos céus e já batiam quase às 18 horas, o sol lentamente se aproximava do horizonte. Após mais ou menos 11 tortuosas horas subindo a maldita montanha tinham conseguido. Os portões de Soundgarden se projetavam na frente deles. Sabbath os tocou e estavam destrancados, com uma leve força e um barulho horrível de falta de óleo e antiguidade ele se abriu. 
A mansão os esperava. 
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Comecemos do ponto importante, o contato. 
Era criança e o verão recém tinha chegado, brincava entre as lápides antigas de gerações familiares certas vezes esquecidas quando notei um buraco escondido por cipós e plantas na parede natural que delimitava o final do cemitério. Meus pais nunca quiseram podar ou cortar pois era tradição não botar um dedo sequer no local de descanso da família, em busca de manter a tranquilidade da montanha a salvo. 
Subi sem quase nenhum problema e vi que aquilo era um acesso a um profundo túnel, senti uma leve brisa vindo das profundezas. O medo infantil me fez descer e voltar para dentro de casa, não falei nada para meus pais. 
Naquela noite, ele veio a mim em sonho. Sua voz parecia sussurrar e nenhuma conjectura parecia entendível com qualquer língua terrena que eu pudesse tentar usar. Acordei desconcertado, não entendia aquele bizarro acontecimento. Meu pai percebeu minha afeição assustada e decidiu que me levaria caminhar pela montanha (algo que nunca tinham me permitido fazer antes). 
Levou-me as Ruínas Stardust e me explicou que aquelas ruínas estavam ali há tanto tempo que nem mesmo o Um poderia saber sua verdadeira origem. No meio daqueles antigos mistérios meu pai disse-me: 
Filho, este mundo possui vastos mistérios. Nossa família existe há muito tempo e nossa história está mais que intrinsicamente ligada com a evolução do mundo, nossa discrição é parte da razão de sermos tão importantes. Existem momentos, ações e lugares dos quais as pessoas nunca podem achar solução, mas não nós... Você viu alguma coisa não? Fique tranquilo, você é um Cream, os mistérios sempre são revelados no tempo certo para nossa família, mesmo que pareça ser tarde demais... O Mal Escondido Nas Estrelas nos deu a dádiva da relevância, não se esqueça disso. 
Depois daquele dia, eu havia entendido meu lugar no mundo. Comecei a me interessar na Afinidade e o mistério das Cavernas de Altamira me intrigou mais do que qualquer coisa que eu tivesse visto antes, ainda não entendia o porquê. 
Um ano depois do começo de minhas pesquisas, meus pais morreram em um acidente. Um evento tão abrupto que tomou minha alma como um tiro envenenado. 
Abalado e sem chão, todo o trabalho de minha família seria cuidado pelos meus tios dos quais eu desconhecia, enquanto o que me restou foi enterrá-los na montanha e encontrar alguma coisa para me entreter enquanto não tivesse a idade mínima para me tornar o chefe da família. 
Não entendia mais nada, nossa família não era escolhida? Como algo assim poderia acontecer? Minha felicidade se tornara tormento e tristeza, cada local da casa me trazia memórias de meus pais, suas palavras não faziam mais sentido. 
E assim, ele veio a mim na noite após o enterro. 
Daquela vez, eu o entendia claro como dia. E para acalmar minha alma agoniada, mostrou-me a resposta que eu necessitava: 
Eu vi o outro lado. Meus pais estavam sorrindo em uma paisagem inimaginavelmente bela, seus olhos brilhavam um neon laranja estupendo. Estavam felizes. Estavam bem... 
Diferente de mim 
Eu sofria, ainda estava preso no lado ruim, e assim eu agonizaria até morrer, como todo o mundo. 
Todos sofreriam sem sentido nenhum.  
No outro lado, nada terreno importa. Foi assim que Ele me convenceu. Ele salvaria a todos e precisava de minha ajuda. 

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