09

Outra lança tinha se projetado do chão e perfurava a perna direita de Twain. Ele grunhiu em dor, desejou ter trocado todo o sentimento de seu corpo naquele momento. Viu o sangue dela subir pela armação de ferro em busca de destruir os cadeados e as amarras, rasgou a mordaça - a única coisa que não tinha um cadeado - e agora ela podia falar novamente. Seus filetes de sangue se aproximaram dos antigos cadeados de ferro e Twain ficou feliz por ter trocado a audição de uma das orelhas. Quando o sangue tocou o cadeado, o líquido vibrou e sibilou. Renton reagiu, era como se tivesse sido eletrocutada por alguma coisa. As lanças sumiram e Twain encontrou seu chão novamente, recuperando o fôlego de pé. 
- Eu me certifiquei que não teria como se soltarem facilmente, pus uma proteção negra que impede o toque de outras afinidades. 
- Uma pena para você que – falou Renton se recuperando da onda elétrica que percorreu seu corpo – ele tinha previsto isso, e ele não precisa de afinidade, só de tempo. 
Ao se virar se lembrou de uma frase de Cream: 
“Lembrem-se, eles serão almas atormentadas, não sabemos o quão longe poderão ter chegado” 
Sabbath parava em pé em uma pose ameaçadora, de seus olhos e boca caíam faixas negras e seus olhos pareciam brilhar roxo, na sua boca existiam presas que não estavam ali antes. A única resposta possível para aquela mudança era que Twain precisaria correr. Correr muito rápido dali. 
Sabbath era algo a mais do que apenas um desafinado. Ele era um Devorador. E naquele momento ele estava com fome.

Muita fome. 

Na velocidade de um relâmpago ele alcançou Twain e pulou em seu ombro machucado, em uma mordida ele puxou um pedaço de carne e o sangue do monge começou a pingar no chão e sujar o robe. Twain canalizou parte de seu poder em sua mão e acertou um soco na barriga de Sabbath com força, o choque e o contato fizeram com que Sabbath se encontrasse com a parede de pedra robusta do local. Com isso Twain pôde se aproximar da porta, mas antes que conseguisse sair da sala, mais uma lança acertou seu cotovelo direito, o monge cortou o sangue com sua adaga e, tropeçando, conseguiu sair da sala. 
Sabbath correu em direção de Twain, mas bateu em algo invisível na porta e foi rebatido caindo no chão da sala. Renton perdeu de vista Twain, deveria ter fugido da mesma maneira como tinha capturado os dois. Caído no chão, as faixas desapareceram da cara de Sabbath e seus dentes voltaram ao normal. 
- Você pode me soltar agora – falou ela, fazendo todo o seu sangue voltar para dentro de seu corpo. Sabbath respirava ofegantemente, sangue escorria de seu corpo e a falta do dedo apenas piorava tudo. 
- Eu já te solto, eu só preciso – Sabbath correu para seu dedo que estava caído perto da armação e rapidamente o engoliu. Esse era o preço de se tornar um Devorador, desenvolver um grande e louco apreço pela carne humana.  
Quando se levantou, parecia que nada o tinha infligido, tirando obviamente os cortes e a falta de seu dedo. 
- Vou te soltar, vamos descobrir como sair daqui. 
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Xamã terminou seus pastéis e se sentiu revigorado, estava pronto para mais uma rodada de encontros com a morte. Sem os darklings na sua cola ele pôde criar uma bola de luz relativamente maior, e agora podia ver os corredores de pedra em que estava. Andou por alguns poucos minutos e chegou em uma caverna relativamente grande, deixando para trás os corredores de estalactites e insetos. Aumentou a luz da bola e a fez flutuar no topo de sua cabeça. 
À sua frente havia uma escada lapidada na pedra, o que o deixou desconcertado. Será que a família de Cream teria feito estes túneis? O que pode haver nesta caverna? Desceu lentamente e com cuidado os degraus, ao chegar na parte mais baixa da caverna viu um grande círculo vermelho, uma estrela de quatro pontas estava dentro do círculo e em cada ponta desta estrela existia o que poderia ser uma mesa de pedra, todas com manchas vermelhas antigas e estranhas estátuas humanoides posicionadas atrás delas olhando para dentro do círuclo. A situação apenas ficava mais bizarra a cada minuto! 
Percebeu que parecia existir alguma coisa no centro da estrela. Aproximou-se passo após passo e viu uma estranha pedra verde-amarela desbotada, no topo dela tinha o delineado de uma mão, estava aberta e o tamanho era mediano, com certeza era de um humano. 
Xamã rapidamente pegou o livro de sua mochila. E numa rápida conexão de mito com realidade olhou para o desenho que estava em suas mãos e a verdade em sua frente. 
Era ela. Aquilo era a Mão Áurea! 

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