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A trilha até a Vila era completamente defasada. Era feita apenas de terra e parecia ter sido aberta pelo meio da mata há tempos, a vegetação fraca tentava retomar posse, mas parecia não conseguir. Seguiam em uma formação dois por dois para o último da fila não sumir sem ninguém perceber, Renton tremia um pouco e Sabbath entendeu que ela realmente não gostava do frio. Viratempo e Xamã estavam atrás conversando e se conhecendo melhor. A paisagem era uma mescla de abandono e estática, as árvores quase não possuíam folhas e alguns poucos arbustos magros tentavam crescer no meio da neve.
- Que horas são? - perguntou Sabbath.
- Oito – respondeu Renton – pelo sol são oito horas.
- O dia recém começou - falou Xamã bocejando – e esse frio dá um sono.
- Concordo – revelou Makalister – Vamos chegar lá em cima o mais rápido possível.
Em alguns longos minutos eles alcançaram uma placa antiga de madeira, nela havia um símbolo NATAS também, este – o mesmo círculo com as quatro bolas ao redor, mas sem as duas linhas de dentro – avisava que existia um local perigoso a frente. Escrito nela estava:
VILA RAMONES
- Chegamos – comentou Sabbath.
Pequenas casas de madeira desabadas apareceram entre as árvores e eles logo chegaram em uma pequena clareira que existia no meio da floresta, estava repleta de casebres velhos, quase todos quebrados pelo tempo e repletos de neve, no centro da clareira tinha um poço artesiano, mas não havia corda e tampouco um balde.
- Quanto tempo vocês acham que faz? – falou Xamã – 50? 100?
- Antes da Visceralidade. Estudei sobre e a arquitetura me parece pré-Visceral. Os pais ou a família de Cream provavelmente já eram donos disso antes dele nascer – respondeu Sabbath.
- Faz sentido – disse Álvares – Eu não deixaria um bando de camponeses morarem na terra que eu comprei. Isso estava aqui antes deles.
- Tem outra hipótese também – falou Renton – Se eles tivessem ido embora, teriam desfeito as casas como os povos nômades da região faziam na era pré-Visceral, mas elas estão aqui, engolidas pelo tempo. Eu não acho que simplesmente saíram. Acho que fugiram. Fugiram e anos depois os Cream compraram a montanha.
- Se eles fugiram, fugiram do quê? – perguntou Xamã, sem receber resposta qualquer.
Renton quebrou a formação e se dirigiu para a porta de uma casa próxima a eles, uma das únicas ainda de pé. Na velha porta de madeira havia o que parecia ser um papiro pregado nela, de alguma maneira ele ainda não tinha rasgado depois de tanto tempo. Renton o rasgou e o leu:
Neil, aqui é o padre Teixeirinha, se teve um pingo de fé e medo em você que o fez desistir de subir e estiver lendo isso:
CORRA, A PALAVRA DOS QUATRO NÃO IMPORTA, NÃO HÁ MAIS NINGUÉM AQUI, TODOS-
Renton percebeu que havia manchas no papel, elas estavam completamente secas, mas ela sabia do que era:
Sangue.
Um cheiro surgia de dentro da neve, olhou ao seu redor e sentiu a presença de vários seres, muito mais do que apenas Xamã, Viratempo e Sabbath.
Quando viu a primeira mão sem um dos dedos sair de dentro do chão o grito de Sabbath comprovou o que ela estava imaginando. Ninguém tinha fugido.
- RETORNADOS!
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