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Todas as suas mães tinham desaparecido em seus partos, foi essa a primeira característica que eles descobriram compartilhar. A próxima foi que eles possuíam a mesma idade - 25 -, que também não conheciam o rosto de suas mães e que a única pista que tinham sobre tudo isso era William Gibson Cream e sua Montanha Negra, perdida bem longe de qualquer cidade. Todos eles chegaram quase ao mesmo tempo, com um intervalo de 15 minutos entre cada um, a mulher foi a primeira, depois o de olhos verdes e o de olhos azuis e por último o homem de pele branca, cabelo chanel preto e olhos mais negros que a noite. 
Devido às bizarras circunstâncias que os uniram, decidiram por unanimidade revelarem seus nomes e se conhecerem melhor, já que seus objetivos também eram iguais: matar Cream e seguir com suas vidas. 
O homem que lia o livro se chamava Victor Xamã, foi criado em um orfanato e ninguém nunca o adotou, então aos 18 anos teve que ir embora. Xamã era bastante interessado na Afinidade, então foi atrás de entendê-la. Morou com uma tribo nômade perdida nas montanhas da Transilvânia até seus 22 anos. Lá ele aprendeu bastante com eles e conseguiu se tornar um Afinado nos poderes Negros. Passou pelos rituais de iniciação - celibato, estudos e a primeira troca – e logo se tornou um Afinado da Escuridão. Foi embora e conseguiu um emprego na área de limpeza de esgotos por infestação de darklings. Com esse trabalho aprendeu táticas e estratégias para matar os Resultados. Decidiu então fazer um ritual de troca para conseguir informação sobre sua mãe, trocou o tato de seus dedos do pé esquerdo e conseguiu apenas o nome de William. Após uma extensa pesquisa descobriu sobre a Montanha Negra, as terras privadas de Cream em uma montanha rodeada por um profundo penhasco. Xamã é um sobrenome que ele mesmo inventou. 
O homem perto da janela era Álvares Viratempo, criado apenas pelo seu pai em Paris. Toda a família de seus progenitores estava morta, então seu único parente era seu único responsável. Desde quando era criança via seu pai buscar informações e pistas sobre o paradeiro de sua mãe, porque ela teria mandado apenas seu filho de volta e o que poderia realmente ter acontecido com ela. Quando Álvares terminou a escola, seu pai morreu de um ataque cardíaco, e a única coisa que ele deixou para Viratempo foi uma carta, nela escrito o nome de Cream. Decidiu assim estudar sobre a afinidade negra, pois tinha medo de tentar a de sangue. 
A mulher perto da lareira se chamava Makalister Renton. Foi criada por suas tias, avôs e avós, dos quais sempre falaram que sua mãe tinha fugido, que ela tinha desistido da vida. Aos 15 anos, porém, descobriu que eles não sabiam nada e que sua mãe tinha desaparecido, tinha chances de ela ainda estar por aí, em algum lugar, com a resposta para tudo. Renton se sentia horrível por não ter poder o suficiente para procurar sua mãe, e com uma leve curiosidade, ela começou a ler e descobrir sobre a Afinidade de Sangue. Durante seu ensino médio fez seu primeiro ritual - convenceu uma amiga a fazer sexo com ela em cima de um símbolo de invocação – e sua primeira troca usando sangue de ratos que ela caçou, com isso podia criar faíscas com o estalar de dedos. Depois da formatura, ela fugiu de casa, passou por todos os selvagens rituais – orgias em céu aberto, noites de prazeres carnais, viagens em drogas alucinógenas e trocas de sangue ou partes do corpo – e tornou-se uma Bloodmancer, podendo assim ter poder para encontrar sua mãe... mas o máximo que conseguiu encontrar foram Cream e sua casa. 
E o último - e o que havia chegado por último também - era Black Sabbath. Não tinha sobrenome no orfanato por nunca terem encontrado sua família, até os ricos e poderosos Sabbath adotarem ele, crescendo assim com tudo do bom e do melhor. O herdeiro de sangue da família o considerava como um irmão de verdade, até o dia em que ameaças secretas caíram sobre eles, e Black teve que fugir para buscar poder, assim vivendo na África como mercenário por alguns anos. Voltou para seu país e descobriu que seu meio-irmão era o único herdeiro legível da família Sabbath que tinha sobrado, depois de um atentado em uma reunião de negócios. Certificou-se que nunca mais atrapalhariam a família Sabbath e descobriu quase que sem querer uma pista sobre sua mãe verdadeira, o nome de William Cream. Para botar um ponto final no mistério, foi atrás da Montanha Negra. 
- Então - disse Sabbath, cruzando seus braços para pensar - Nós temos três pessoas versadas em afinidade, duas com conhecimento militar, uma montanha para subir, um mistério para revelar, e possíveis inimigos à frente. 
- Inimigos? - falou Xamã - O que aconteceu? 
- Quando estava chegando aqui – continuou Black – um Bloodmancer destruiu a ponte, não vi quem era pois estava muito longe e tenho certeza que não foi Renton se não ela ainda estaria se recuperando de uma Afinidade daquelas. Tem mais alguém além de nós nesta montanha, mais de um provavelmente. 
- A ponte foi destruída? - falou Makalister - Então a única maneira de irmos embora é... 
- Pelo bondinho – falou Álvares - no topo da montanha – apontando pela janela, os ventos tinham parado e o sol agora refletia seus raios na neve, podiam ver claramente a montanha. Perceberam que aquele seria um longo dia, longo até demais. No topo, uma grande mansão em estilo vitoriano parecia olhar para baixo, revelando a jornada que era necessária para alcançá-la. O objetivo se mostrava mais longe do que o esperado. 
- Se vamos trabalhar em equipe – falou Renton – temos que checar o posto, pode ter alguma coisa aqui.  
Sabbath juntou sua mochila e a dos outros em frente à lareira enquanto eles investigavam o pequeno posto. 
As paredes eram de um fraco azul desbotado e além da sala principal em que estavam haviam mais dois cômodos, um banheiro pequeno e uma cozinha com uma geladeira, um fogãozinho e uma cafeteira manual. Viratempo viu que havia um café recém feito, mas que já estava frio. 
- Alguém aqui fez um café? – perguntou ele. 
- Eu não sabia que tinha uma cozinha aqui, entrei e fiquei perto da lareira porque não gosto do frio e porque não sabia quem eram vocês, portanto eram inimigos naquele momento – falou Renton sentada em frente à lareira novamente.  
- Estamos no início do inverno – adicionou Xamã para Makalister – O frio fica bem pior nos próximos meses. 
Abriu a geladeira e não achou nada, quem esteve ali tinha levado o que comia embora, mas deixado de cortesia um café frio. Quem quer que fosse, era um inimigo. Ligou o fogão e deixou o café esquentar. 
- Acharam alguma coisa aí? – falou Viratempo. 
Um rádio-amador – respondeu Xamã – mas não tá funcionando. 
Perto de uma das paredes estava a mesa com um rádio-amador, provavelmente usado talvez para comunicação entre o posto e o pico. Era velho, mais ou menos de 130. As chances de funcionar eram baixas, portanto deixaram de plano de fundo. 
- Ei – Makalister, com as mãos perto do fogo começou a olhar dentro da lareira. Atrás das chamas havia algo. Uma linha, ela a seguiu e encontrou outra linha que se cruzava com essa. Mais abaixo um nome: Antiga Vila Ramones 
– Tem alguma coisa atrás do fogo. 
Renton fechou os olhos. Ao abri-los, a cor de seu olho esquerdo agora era de um vermelho inimaginável, uma estrela de quatro lados girava em sua íris. Seu braço direito se tornou preto como carvão e ela colocou a mão pelo fogo, alcançou o papel que estava atrás e o tirou rapidamente. Sabbath pegou o papel do chão e Renton se recuperava, em meio a algumas das piscadas de olho que ela fazia o seu castanho voltou, e seu braço lentamente retomou a coloração branca que tinha. 
- É um mapa – falou ela, levantando-se  Um mapa da Montanha. 

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