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Xamã não conseguia parar as agulhas. Mesmo tentando usar a neve, elas passavam sem nenhum problema. Não estava conseguindo se concentrar. Djonga não só controlava o fluxo de seu sangue, como também podia coagulá-lo quando quisesse. Foi ao lembrar disso que Xamã encontrou sua oportunidade. 
Depois de várias barreiras de sangue Xamã caiu no chão, tremia de tanta dor que se espalhava por seu corpo, mas sabia o que tinha que fazer e porque Djonga tinha parado. Diferente do hidrogênio que Xamã consumia quando fazia suas lâminas, o sangue do Bloodmancer era limitado, e ele só podia deixá-lo duro daquela maneira ao coagular, era possível sim fazer lâminas com o sangue sem estar coagulado, mas para passar pela neve ele teve de gastar seu sangue, já que um Bloodmancer não pode usar o sangue novamente depois de coagulado, ele se torna um objeto do qual ele não tem mais controle. 
Com Xamã “derrotado”, seu inimigo se aproxima. 
“Ele vai se aproximar para checar se eu estou morto, já que nossa afinidade permanece em nosso corpo durante 30 minutos depois da morte, com os ferimentos dele e sem adrenalina não aguenta meia hora nesse frio, quando ele chegar mais perto, vou atacar! Ai, que dor do caralho!” Pensava Xamã mantendo-se o mais parado possível. Djonga não poderia usar mais um pingo de seu sangue por algumas horas até seu corpo fazer mais. Sua única opção era se aproximar para confirmar sua vitória, e isso o deixaria vulnerável. Com sua aposta errada ele descobriu da pior maneira que o Darkmancer era bom no combate à curta distância, não poderia cair na mesma jogada duas vezes.  
Depois de vários passos em direção do “corpo” ele parou. Sentia uma intuição estranha. 
“ELE PAROU?! SERÁ QUE ELE PERCEBEU?!” cogitou Xamã. 
Djonga se sentia estranho, tinha certeza que a situação inteira estava a seu favor, mas ainda assim sabia que iria perder. Quando realizou o plano de Victor já era tarde demais. Já que as agulhas de sangue não eram mais controláveis por ele, nada impedia Xamã de controlá-las. 
Ao mesmo momento em que elas flutuaram para fora do corpo caído no chão, Xamã grunhia de dor. Com todas as agulhas que tinham perfurado seu corpo flutuando ao seu redor, Xamã levantou com raiva nos olhos. 
- ESSE SANGUE! - gritou ele - É SEU! 
Todas elas voltaram rapidamente em direção de Djonga, levantou mais uma barreira de fogo e revelou que ainda tinha stamina para usar afinidades. As agulhas se desintegraram sem chegar no Bloodmancer. 
- NÃO ME SUBESTIME DARKMAN- Antes que pudesse terminar sua frase legal, se projetou por trás das chamas vermelhas um punho em alta velocidade coberto de uma fumaça negra. Xamã aproveitou que a muralha de fogo cobria a visão de Djonga para se aproximar, tinha amplificado sua força com sua afinidade aumentando a explosão do impacto. Seu punho quebrou o nariz do Bloodmancer e o fez voar para longe, se encontrando rapidamente com uma parede de pedras das ruínas. 
Pela primeira vez nos últimos minutos, Xamã respirou profundamente... E gritou. Olhou para o braço sem mão e gritou, sangue pingava de pontos aleatórios onde as agulhas tinham atingido em seu rosto e sua roupa lentamente se encharcava de hemoglobina, gritou com tudo que tinha. Djonga não estava se movendo e uma poça de sangue se fazia ao seu redor. 
Por alguma razão queria chorar, mas sabia que era impossível. Ele tinha trocado sua habilidade de mostrar tristeza por poder. Pensou que não faria diferença se estivesse com botas ou não já que não sentia os pés fazia muito tempo, será que ele seria mais feliz se ainda tivesse o tato deles? Lembrou de sua mochila em suas costas e checou se alguma comida tinha sobrevivido ao confronto. As balas e seu livro estavam bem, mas apenas um dos pacotes de comida não fora esmagado. 
- X-XAMÃ!? 
Acreditou apenas quando virou seu olhar para a direção de onde aquela voz vinha. Era Makalister, e atrás dela estava Sabbath. Os dois correram em direção a ele. 
- Encontrei o Bloodmancer – disse Xamã enquanto os dois o ajudavam a levantar. 
- Vimos o fogo e ouvimos os tiros – falou Makalister – o que aconteceu? 
- Nós encontramos o Darkmancer, ele, ele era um Retornado também - Sabbath e Makalister se entreolharam e pensaram no Padre Teixeirinha. 
Xamã continuou. 
- Ao matarmos ele, caímos em uma caverna, fomos perseguidos por darklings que povoam o subterrâneo daqui, eu perdi ele nas cavernas, e depois eu encontrei ela... 
Ele começou a tremer, não estava demonstrando tristeza, demonstrava medo, demonstrava terror. 
- Você encontrou a Mão Áurea. Você encontrou o Um – respondeu Sabbath. 
Xamã não respondeu. 
- Está aqui então. A Mão Áurea está abaixo de nós – falou Makalister, tentando engolir a nova realização. 
Darkmancer sorriu, ele não estava mais sozinho, de alguma maneira eles tinham descoberto também e ele não seria chamado de louco, seu plano de ganhar tempo foi um sucesso. Viu que Sabbath tinha perdido um dedo e que havia um corte na bochecha de Makalister. Que inimigos tinham encontrado no caminho? 
- Xamã - falou Sabbath – Vamos conversar depois. Temos um problema para terminar de resolver. 
Uma risada começou a ser ouvida nas ruínas, o olho verdadeiro dela se tornou vermelho e Sabbath já entrava em seu estado de Devorador, onde inclusive seu dedo perdido tinha voltado. 
- Você é um devorador? - perguntou Xamã preparando suas últimas forças e recarregando sua arma. 
- Sim. Conto depois, longa história - falou Sabbath com garras se projetando de seus dedos. 
A risada aumentou. Um pilar de fogo apareceu e subiu tão alto nos céus que eles o perderam de vista. Djonga sai das chamas com um sorriso quase maior que seu rosto. Seus cabelos longos que agora levitavam mostraram algo que os três não queriam ver: Ele tinha entrado na Prudence. Sangue pingava de seu nariz e ele nem se importou em limpar.  
- Você conseguiu Xamã. Ganhou tempo e agora tem seus aliados com você. E com isso... VOCÊ ME DEIXOU FELIZ XAMÃ! EU NÃO TENHO UMA BATALHA DESSAS FAZ VÁRIOS ANOS! EU ATÉ TINHA ESQUECIDO DE COMO ERA ESTAR NA PRUDENCE... EU TE AGRADEÇO, E PARA PAGAR O SEU FAVOR... EU VOU MATÁ-LOS! 
Djonga olhou para o seu braço de aço quebrado e o queimou rapidamente, no chão caiu apenas uma gosma superaquecida. O sangue de seu rosto e o que estava ao seu redor em uma poça se redirecionou, subiu pelo corpo e formou um novo braço escarlate que reluziu na luz do sol. 
- Ele é muito mais forte que eu – comentou Makalister – eu nunca conseguiria fazer isso. 
- Eu meio que percebi – falou Sabbath – mas você não está sozinha. Vamos matar esse desgraçado. 

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