25 (FINALE)

A montanha começou a tremer, os três saíram da caverna e viam o impossível nas escadas. O círculo havia ligado como neon, um vermelho forte iluminava tudo quando a pedra começou a rachar e a mão dourada se partiu no meio. 

- Ele queria libertá-lo – falou Xamã a ponto de explodir – ELE QUERIA TRAZER O UM DE VOLTA! VAMOS SAIR DAQUI! 

Enquanto subiam desesperadamente de volta para Soundgarden, Xamã explicava o que Viratempo tinha lhe entregado. Agora todos sabiam a verdade. 

Os segredos da montanha se tornaram as verdades dos Novos Quatro.  

As lanternas estouravam segundos depois do grupo passar correndo por elas, nunca tinham ouvido um som tão alto e horrivelmente perturbadoreram tantos sons reconhecíveis misturados com barulhos que pareciam vindos do longínquo espaço ou das profundezas do inferno que faziam suas mentes vibrar de medo e loucura. 

Ao saírem na mansão, Makalister ateou fogo enquanto Xamã e Sabbath chamavam o bondinho, perceberam que ele estava no pé da montanha e demoraria alguns minutos. Estavam tão chocados que não o chamaram antes de adentrar Soundgarden. 

O chão continuava a tremer flocos de neve começavam a flutuar. 

- Isso não é nada bom. 

Xamã tinha apenas lido sobre esses efeitos colaterais nos livros de afinidade. Apenas os Arqui-Afinados na Previdence conseguiam afetar tanto o mundo ao seu redor, mas claramente não podia se esperar menos do que tudo que estava acontecendo. Graças a essa criatura que caiu das estrelas eles puderam alcançar tais habilidades. Agora precisavam de alguma maneira pará-la. 

Soundgarden vibrava e aquecia com o incêndio que a engolia quando Makalister retornou ao grupo, saiu correndo esbaforida e com o corpo sujo de cinzas. 

- NÃO SE ESQUEÇAM DA BOMBA! A GENTE DESCE E ATIVA! – falou ela com seus olhos negros girando a estrela vermelha. 

- Espero que o fogo o atrapalhe – falou Sabbath, sua voz se tornando grave e rouca ao entrar em seu estado de Devorador – espero mesmo. 

A qualquer segundo veriam pela primeira vez em 144 anos a face do desconhecido que ronda no espaço. Uma lenda que se tornara realidade no decorrer do dia. 

Quando a casa desabou em si mesma e no fogo, do meio das cinzas eles o viram. 

Mesmo se quisessemnão poderiam explicar o que viam naquele momento. O que conseguiam distinguir era sua pele clara. 

Parecido com um humano, mas não o suficiente para poder se misturar aos demais, entenderam que não havia boca, mas olhos. Grandes e temerosos olhos, feitos de cores e imagens inimagináveis. 

O Um flutuava acima das chamas, como se esperasse alguma coisa. 

Mesmo estando na presença de um ser superior, nenhum deles perdeu a composturasabiam a verdade, e sabiam o que deveriam fazer. Ou pelo menos tentar. 

Makalister foi a primeira, lançando uma sequência de bolas de fogo. Todas elas acertaram, mas no momento que a fumaça se dissipou e se misturou no incêndiopermaneceu intacto, como se nada tivesse efeito nele, nem mesmo o tempo. 

Cheque a bomba! – falou Sabbath – É a minha hora! 

Correu em direção do Um e pulou, o agarrou no ar com todas as suas forças e garras e adentrou o fogo junto com ele. 

- SABBATH! – gritou Makalister – Xamã! Quanto tempo até o bondinho? 

MENOS DE DOIS MINUTOS! 

Ela voltou seu olhar para o incêndio, pensando na batalha sangrenta que Sabbath estava travando. Será que ele voltaria? 

Sabbath, ao invés de pensar a mesma coisa que ela – o que seria muito conveniente para a trama - não tinha nenhum pensamento em sua cabeça. Cada vez que arrancava um dos braços do Um com os dentes ou garras, eles voltavam rapidamente. Fugia das bolas de fogo e lâminas de hidrogênio dele como se fosse uma bala, não sentia o calor do fogo que os engolfava dentro das madeiras crepitantes e metais lentamente derretendo de Soundgarden, apenas notava a neve se tornar água que molhava sua roupa devido à temperatura. O Um escapava dos ataques e devolvia com projéteis que mandavam o Devorador para longe. Um embate que poderia durar por várias horas se deixasse, se deixasse... 

Após fazer um grande corte no peito do monstro, completou com uma grande mordida dentro de sua carne vinda das estrelas. 

O sangue do Um fez algo, os olhos de Sabbath piscaram entre seu roxo de Devorador com uma estranha coloração laranja neon enquanto ele gritava. O Céu falava com ele. O Mal Escondido Nas Estrelas tinha proferido. Uma força inimaginável invadiu Black. 

Enquanto isso, o bondinho alcançava o topo no momento que Xamã e Makalister viram o monstro flutuar para fora do incêndio. 

Ela não podia pensar em Sabbath no momento, mesmo tendo quase certeza sobre o que havia acontecido. 

- DESGRAÇADO! – gritou Xamã ao enviar pedras e madeiras da mansão nele. Para a surpresa dos dois, duas estacas perfuraram seu peito e o monstro vibrou com um grito totalmente fora de qualquer âmbito capaz de explicar. Xamã tirou a arma do coldre, as balas funcionariam! 

O que quer que Sabbath tenha feito, fora efetivo! 

- TOMA ESSA! – Ela mandou uma concentrada, pequena e rápida bola de fogo que o atravessou como uma bala.  

O Um respondeu, uma grande onda de chamas caiu sobre os dois, que se protegeram por um triz de se tornarem cinzas. Mesmo podendo sofrer dano, ainda assim era o precursor de qualquer ataque que os dois conseguissem conceber, a origem de Todas As Coisas Ruins. 

Continuaram o atacando de todas as maneiras possíveis, segurando-o no topo para que não retomasse sua procissão de morte. Levava tiros que giravam e trocavam de direção no ar enquanto sofria mais e mais projéteis de fogo, Xamã pulava, rolava, se jogava no chão fugindo dos ataques e Makalister desviava rapidamente, usando do fogo como propulsão. 

Em uma dança lancinante os três se moviam, a cada segundo tendo menos certeza do futuro. 

 O Um demorava cada vez mais para se recuperar e a energia dos dois começava a se esgotar, seus corpos agora pediam um descanso de tanto sofrer durante todo o maldito dia. 

Quando Makalister tentou levantar seu braço mas não conseguiu, achou que ali seria seu fim. Até ver um vulto negro vindo dos escombros da mansão. 

Atacando o monstro pelas costas, Sabbath agora brilhava um estranho laranja ao invés de roxo. Estava mais rápido e forte do que nunca. Jogou o Um para longe dos dois e voltou em sua briga, que agora a criatura devolvia com socos e chutes também. 

Ouviram o bondinho atracando na estação, Xamã e Makalister correram. A montanha tremia e se quebrava a cada encontro de Sabbath e O Um. 

Xamã chegou primeiro e estendeu a mão para Makalister. Ao estender seu braço para a salvação, o viu simplesmente cair ao chão sem sentir nenhum tipo de dor. O Um havia mandado uma lâmina concentrada de hidrogênio em direção dela em meio a batalha contra Black, que não tinha realizado nada. 

Um líquido quente escorria pela sua perna de aço quando Xamã a ajudou a entrar no bondinho, tropeçou e caiu em cima de um banco de couro antigo. Sua mente tentava focar para controlar o sangue, mas quase não conseguia entender sua situação. Sua visão embaçava e voltava rapidamente, ainda tentava usar o braço que já não estava mais ali para se ajeitar no banco e o sangue pingava no chão quase ao mesmo tempo que a montanha dançava. 

- RENTON! RENTON ESTÁ ME OUVINDO! VOCÊ TÁ COM O DETONAD- 

Olhou para a porta e viu Xamã, parecia flutuar, de seu peito se projetava uma estranha mão humanoide, seus olhos tinham se esbugalhado e sangue corria de sua boca agora, um anel vermelho rodeava a mão. Tentou gritar, mas Xamã, antes de perder a consciência ativou o bondinho. O sistema rangiu e vibrou. 

Sentada no banco da salvação ela viu, o sobrenatural estelar a fitar com seus olhos universais. Soltou o corpo do humano que havia matado e a inundou com seus olhos inexploráveis. 

Makalister percebeu que segurava o detonador da bomba no braço que ainda restava, seu instinto humano tinha salvo o mundo. Olhou uma última vez para a montanha e o pico dela que se distanciava, viu a criatura que possibilitou que ela se tornasse afinada e que destruiu a sua vida ainda a olhando, como se visse uma bela pintura clássica. 

Segundos antes de apertar o botão, viu Sabbath pela última vez na Terra, aplicando uma mata-leão nO Um, percebeu que ela o via e deu um pequeno sorriso que dizia... acabe com isso. 

 

 

 

CLIK 

 

 

 

A primeira coisa que uma bomba de sangue compressa faz é explodir, uma grande bola de almas e gritos inocentes vermelha volátil e imprevisível toma conta do local planejado. O Um tentava se soltar das mãos negras das almas injustiçadas, mas não conseguiu. Foi engolido pelos terrores de seres inferiores a ele e pela raiva e vingança de Sabbath, Viratempo e Xamã. 

A segunda coisa que ela faz é comprimir, transformando qualquer ser vivo em alguma outra coisa que até hoje não foi especificada, diminuindo até o tamanho de uma bola de futebol. Assim entrando na terceira parte. 

Ela estoura para os céus. Toda área aérea ao redor da montanha agora eram nuvens vermelhas de agonia e sofrimento. 

O bondinho chegou ao seu destino. Makalister reuniu suas últimas forças e saiu dele, deixando um longo rastro de sangue pela estação e pela neve, até cair no chão olhando para o resultado de seu dia. Não sabia distinguir o que era a fumaça do incêndio que destruíra qualquer traço da existência de Cream no mundo e o que era a libertação de seus demônios junto com as nuvens vermelhas de sofrimento, dela, deles e de todos. O sangue tinha parado de fugir, estava conseguindo mantê-lo em seu corpo. 

... 

Ao ver a primeira estrela no céu escuro enquanto a fumaça vermelha se dissipava, sua respiração cessou e seu coração parou. Seu sangue esfriou e se espalhou pela neve clara, criando um círculo carmesim ao redor dela. Ela não pode controlar mais o fluxo. 

Os segredos e mistérios da Montanha Negra partiram junto a ela e os outros, as duas rotas de entrada foram destruídas e em pouco tempo não havia sinais de explosão no céu. 

Ao salvarem o mundo da total extinção, deram em troca tudo o que tinham e todo o futuro que os esperava. Xamã entraria no Instituto, Sabbath e Makalister começariam um relacionamento e Álvares estaria em paz com sua família. O que os esperava agora era algo maior. 

O Mal Escondido Nas Estrelas... 

O corpo de quem um dia foi chamada de Renton foi encontrado semanas depois conservado pelo frio, que tinha piorado com o avanço do inverno. Os nômades o enterraram ali, com uma bela vista a uma grande montanha inacessível, condenada a ser esquecida pelo tempo em um mundo passando por uma nova crise, que logo foi chamada de “O Abandono”. 

Contrariando o jeito como a afinidade havia chegado, ela foi embora sem alarde. O poder dos Afinados se dissipou e o que eles tinham trocado nunca voltou. Sobrando apenas o mal que reside nos homens e as inospitalidades da natureza. 

O resto, todo, foi embora. 

Todas As Coisas Ruins deles acabaram. 

 

FIM 

Comentários

Episódio mais lido!