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Com esse pensamento tudo fechava. O padre fora feito para fazê-los sofrerem mais, a missão do monge era fazê-los sofrer mais, o Bloodmancer... 
Sabbath sabia que tinha sido uma péssima ideia ter vindo ali, poderia ter seguido sua vida tranquilamente como um mafioso ou um soldado sem nome na África, mas sua curiosidade pela origem de si o tinha colocado neste paradoxo infernal, com a cada passo que pudesse dar para o topo fosse um caminho na escuridão do perigo.  
Sentiam que todos os seus sofrimentos foram planejados por Creamque nada que tinham feito era livre-arbítrio. Tudo os levou até ali, direto aos mistérios do passado. 
- Mesmo que eu não queira mais subir – falou Xamã – Eu preciso, se eu quero sair dessa montanha e continuar com a minha vida, eu tenho que chegar naquele bondinho. 
- Nós temos – disse Makalister – estamos juntos nessa merda e nem foi nossa escolha. Vamos sair daqui e deixar tudo isso para trás. Mas precisamos fazer isso JUNTOS. 
- Eu concordo com isso – falou Sabbath - Já chegamos até aqui. Vamos até o final agora. 
Os três se olharam com uma intensa convicção, mas logo perceberam que ainda estavam muito cansados e seus músculos doíam intensamente. 
- Mas antes... Eu acho que a gente devia descansar, comer mais um pouco e conversar – falou Makalister lendo a mente do dois. Eles concordaram em uníssono e se sentaram ao redor do fogo. Ao voltarem para o estado de descanso, Xamã deixou sua mente imaginar o que teria acontecido com Viratempo... 
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“LUZ” Viratempo pulou para fora das Cavernas de Altamira. Respirou como se nunca teve acesso ao ar limpo. Se tivesse ficado mais um segundo sentindo o ar parado e sujo das cavernas teria enlouquecido. Tinha esquecido de sentir dor no meio do caminho enquanto passava pelos darklings invisível e parou de sentir seus pés quase no final, mas finalmente havia chegado. Investigou seus arredores e comprovou o sucesso de seu plano. Rodeado de velhas lápides, grandes arbustos e árvores tortas, ele havia alcançado... O TOPO DA MONTANHA, O CEMITÉRIO HENDRIX! 
E ao lado dele se erguia ela, a grande e desconhecida MANSÃO SOUNDGARDEN, um temeroso clima girava ao seu redor, e o coração de Viratempo batia mais rápido apenas ao vê-la. 
Não sentia nenhuma aura afinada ao redor e havia deixado de encontrar darklings nas cavernas já fazia algum tempo, mas tinha quase certeza que não estava sozinho. Aquela montanha sempre parecia ter alguma coisa guardada, mesmo que tudo apontasse o contrário. Olhou para cima e viu que o buraco do qual havia saído era escondido por galhos e cipós velhos, isso era provavelmente o caminho secreto que o monge tentaria usar. 
Começou lentamente a se dirigir para o portão de ferro do cemitério. A cada passo parava para ouvir e checar seus arredores. Naquela altura, não só o ar era mais rarefeito, como sua força e coragem também. Acostumado com bibliotecas e pesquisas e mesmo tendo ótimas táticas de combate e uso de afinidade, apenas passar pelos darklings invisível sentindo o cheiro horrível que eles possuíam já tinha feito seu coração bater como parte de uma banda marcial. Os Retornados do pé da montanha já teriam sido o suficiente para seu medidor de perigo atingir o máximo, o resto apenas o atacou intimamente nos nervos e ansiedade que tinha de descansar nem que fosse por alguns minutos. Não via a hora de descer a montanha, mas não via a hora também de matar Cream e completar a busca que seu pai morrera tentando. 
Passava os olhos pelas lápides antigas e via os nomes nelas gravados: 
Philip K. Cream 
Mary Cream 
Isaac Cream 
Depois dele os nomes estavam quebrados ou cobertos por folhagens, até quase chegar ao portão, ali haviam quatro lápides que pareciam novas e três buracos sem nada. 
Flora Makalister 
Aurora Buarque 
Clarice Bluesman 
Viratempo caiu no chão e lágrimas caíram de seus olhos ao ler o nome da última. 
A probabilidade que ela estivesse viva era muito baixa, mas nada nesse mundo louco o faria perder a esperança de conhecê-la, até encontrá-la. 
- Pai... - falou ele entre soluços - Eu achei... Eu a achei... 
Maria Firmina Viratempo era o nome gravado ali. Seu cuidado com os arredores fora esquecido, precisou cair na real ali mesmo, no meio do inimigo. 
Sua mãe estava morta. 
Estava sozinho no mundo preso em um inferno. Ele só queria entender porque, porque ela tinha feito tudo isso com ele e seu pai, porque tinha o abandonado grávida e porque tinha morrido na montanha. Não aguentava mais o fedor da ignorância que o impregnava. Alguns minutos depois, levantou-se. As outras sem sombra de dúvidas eram das mães dos outros, contaria para eles se os encontrasse novamente. Passou pelo portão e seguiu em direção da mansão. 
A ignorância era uma das coisas ruins para Sabbath, e Viratempo não suportava mais não saber também. O mistério agora chegava ao fim. 

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