08

Em algum momento no meio da corrida desenfreada, Xamã não ouviu mais os sons dos Darklings, e então, devido ao cansaço, decidiu parar. Seu coração pulsava em sua orelha e mesmo assim não ouvia mais nada. 
Estava sozinho no meio da escuridão abaixo, via apenas um metro ao seu redor com sua mão brilhante e não conseguia aumentar a luz agora porque estava extremamente cansado. Logo sentiu e se lembrou de sua mochila que estava em suas costas, estava sobre tanto estresse que havia esquecido completamente dela. Sentou-se ali e pegou um de seus pacotes de comida, sabia que não conseguiria encontrar os outros de barriga vazia. Não sabia porque os Darklings haviam desistido de caçá-lo, mas aproveitou seu momento de calma em meio ao turbilhão e saboreou o gosto de pastéis frios de carne e algumas barrinhas energéticas com longos goles de água. 
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Twain coava um ótimo café na anciã cozinha do Monastério Tom Sawyer, ouvia à distância o som da mulher e do homem que tentavam desesperadamente escapar de suas amarras. Decidiu fazer novamente já que tinha deixado a última xícara esfriando no Posto de Controle, a qual provavelmente foi jogada fora devido às chances de estar envenenada. Ainda não tinha entendido o quão facilmente fora completar parte de sua missão, os tinha pego com um simples truque de vela na janela! Ele ria sozinho, como fez pelos últimos longos anos que esteve na montanha, tomou um grande gole do café quente que o revigorou para mais uma rodada de gritarias daquele rapaz e para depois ter aquela mulher para ele, apenas para ele. Há tanto tempo que ele não via uma mulher, e quando o plano entrou em ação pôde observar ver o que ele considerou um “belo espécime”, perfeito para todos seus loucos desejos guardados nas profundezas de sua mente, pois sabia que nunca mais dançaria com alguém de novo quando havia aceitado sua missão. Encostou em sua mão direita e sentiu saudade do tato que ela possuía, mas sabia o que tinha de ser feito, uma maneira de impedi-los de fugir caso conseguissem – o que provavelmente não seria o caso, já que eram necessárias forças sobre-humanas – se livrar das amarras. 
Aproveitou cada passo até a sala onde eles estavam, observou o silêncio das paredes de pedra do monastério que foram seu abrigo que ser perturbado pelos sons do espécime e do homem tentando fugir. Agora que ela estava acordada, ele poderia vê-la reagir a o que quer que ele fizesse com o outro. Ficava dividido entre cortar mais um dos dedos ou uma das orelhas, talvez cortar um dos dedos do pé dela? Quando entrou na sala ainda não estava decidido. 
Bom, decidiu que seguiria seu instinto, algo do qual ele nunca usou. 
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Deslizou por mais tempo do que achava possível, quando chegou a um chão horizontal permaneceu ali, se acostumando com a gravidade que não o puxaria para baixo como antes. Levantou e percebeu que de alguma maneira seu whisky ainda estava intacto, abriu e tomou um gole com a mão brilhante, guardou ele de volta na mochila e se colocou em seus pés novamente, andou por alguns minutos pelas cavernas ouvindo ruídos e sons que sem sombra de dúvida eram de Darklings, mesmo não vendo mais nenhum.  
A caverna ficou menor e teve de se agachar para continuar seu caminho, de tempos em tempos deitava para não bater em estalactites que desciam do teto e ao virar em uma curva ele a viu, a forte luz branca do dia o reconfortou que como nada em sua vida o tinha feito antes. 
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- Porque só está usando-o? Será que é porque gosta mais dos garotos fracos? - falou Renton, tendo apenas como arma seu discurso. 
Depois de dar mais um soco na barriga de Sabbath ele se virou. Twain claramente tinha de quarenta a cinquenta anos, seu manto cinza de monge era longo e escondia seu corpo deles, ao redor da cintura havia um cinto cujo uso era para apenas segurar o coldre da faca de aço inox que era a sua Extensão. 
- Eu achei que a senhorita era mais recatada e quieta – respondeu Twain. 
- Olha aqui seu Mongezinho pervertido – falou ela, usando uma entonação de patricinha que estava enchendo o saco de Twain desde que ele tinha voltado – eu não sei quem é você, mas saiba que meu assunto não é com a sua pessoa! 
Twain estava no segundo round fazia quarenta minutos e nunca quis tanto o silêncio inóspito do Monastério de volta, aquele espécime parecia não ter entendido a situação em que estava. O outro homem pedia para que ela parasse, matá-lo se cortassem suas amarras, ficava tentando se mexer pelo menos um centímetro de lugar, o que claramente não conseguia já que ele havia soldado as armações no chão. Em algum momento não aguentou mais as falas rápidas e pegou uma mordaça de anel, deixando-a com sua boca bastante aberta, assim impedindo sua fala. 
E mesmo dessa maneira ela continuou a atrapalhar sua bela sessão de tortura. Twain já não aguentava mais, ela iria morrer ali de qualquer jeito! O que ela estava tentando fazer? Morrer mais rápido? Não tinha como fugir, ele sabia que os cadeados não se quebrariam e os cintos não se soltariam até que ele decidisse. 
Em um rápido movimento, Twain pegou a faca que ele tinha cortado o dedo do outro e fez um corte na bochecha dela. Ao sentir o sangue começar a pingar pela sua pele e a dor aparecer, ela começou a tremer, percebeu que não teria maneira de fugir, e era isso que ele queria! Os planos tinham mudado, ele faria ela sofrer, até ela não aguentar mais, aí ele usufruiria do belo corpo do espécime e depois cortaria a cabeça do outro, então cortaria os membros que não fossem necessários para ela permanecer viva e a faria dele, até o dia em que decidisse a jogar dentro da banheira de seu quarto no monastério para afogá-la, para poder ver a beleza do terror e do sofrimento, da chance zero de escapar da morte, do terror absoluto! 
A cada corte, Twain faria o próximo mais fundo e maior. Pelo terceiro que ele estava fazendo no braço ela começou a gritar e chorar. Oh! Como era bela! 
Se distanciou neste momento para vê-la se contorcer, tentando escapar de seu destino inevitável, chorava e soluçava, sangue começava a pintar seu belo corpo, caindo por cima dos seios e pelo meio de suas lindas coxas. 
Twain, ao dar o primeiro passo de volta a ela, sentiu algo estranho no ar, logo viu que ela não estava mais chorando, uma fraca risada começou a vir de algum lugar.  

Ela estava rindo.  

Renton levantou sua cabeça e o olho esquerdo dela paralisou a alma de Twain. 
Seu rosto – agora com uma certa certeza – provou para Twain que ele estava errado. 
Tinha subestimado seu oponente. 
Uma lança vermelha se projetou do chão ensanguentado e acertou Twain no ombro. Tinha saído do vermelho dela, que agora parecia voltar para seu corpo. Viu que a coloração branca de suas pernas estava lentamente sumindo como se fossem manchas em um tecido, revelando pernas de aço, Reposições como eram conhecidas. 
Voltando seu olhar para o rosto dela entendeu que imenso poder ele enfrentava. Os dois olhos de um Bloodmancer normalmente se tornavam vermelhos. 
- Até... - falou Twain com uma voz gaguejada - até um dos seus olhos você trocou!? 

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