07

O infernal som das patas e dos corpos dos Darklings se sobrepujando e correndo uns sobre os outros impregnava a cabeça de Viratempo e Xamã enquanto eles seguiam por aquelas cavernas intermináveis, correndo de mais uma das coisas ruins, o medo da morte. 
Jogavam pequenas esferas luminosas para frente podendo assim guiarem-se por alguns segundos, no tempo em que não conseguiam lançar, corriam na escuridão pelo que poderia ser a direção da saída, mesmo ainda não vendo nenhuma luz da superfície. Correram assim por vários minutos e a as cavernas subiam e desciam perdidamente, e eles deslizavam e subiam para fugir. O cansaço lentamente chegou, já que a adrenalina cobria o que faltava de energia e os Darklings não pareciam dispostos a parar tão facilmente. Xamã sabia exatamente o que eles mais gostavam do corpo humano: os olhos, brigavam por eles, matavam por eles. Se sentiu um completo idiota por não ter pensado na possibilidade de haver Darklings ali, sabia exatamente como e quando matá-los, mas não estava com a concentração necessária a tarefa.  
Viratempo estava preocupado em sobreviver, corria sem pensar em mais nada, e em um quebrar de segundos, deixou de sentir o chão sob seus pés e caiu, gritando de susto e medo enquanto deslizava mais fundo na escuridão da montanha. 
Xamã agora estava perdido sozinho dentro da montanha, sendo perseguido por criaturas das quais ele nunca escolheria encontrar. 
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Ela recobrou sua consciência com o grito de dor de alguém, as paredes eram de pedra e sentiu que estava nua. A visão lentamente começou a desembaçar e, a alguns metros de distância, viu um homem - também nu - com vários cortes pelo corpo e em sua mão esquerda faltava o dedo anelar, local por onde sangue escorria como um pequeno riacho. O homem estava preso em uma armação de aço parecida com uma cadeira, com largas tiras de couro e cadeados em seus braços e mãos estendidos. Quando ela decidiu olhar o rosto ela se lembrou da situação em que estava. Aquele homem era Sabbath! 
Tentou levantar, mas percebeu que também não podia se mexer, seus braços estavam presos para trás juntos com bastante força. Não conseguia ver, mas sentia que tinha pelo menos dois cadeados prendendo seus braços. Suas pernas estavam dobradas e viu que estava presa em uma armação parecida com a de Sabbath, mas a sua abria um ângulo muito maior entre as pernas, e vendo isso ela entendeu o que aconteceria se eles não achassem uma maneira de sair dali rapidamente. Ela não sabia quanto tempo esteve desacordada e o que poderiam ter feito com ela enquanto esteve inconsciente. 
- Acalme-se – Sabbath percebeu que ela estava acordada. Sua voz estava fraca e ele respirava ofegante – ficou fora por uma hora e ele ainda não fez nada com você. Quer terminar comigo primeiro, depois vai aproveitá-la. 
“Aproveitá-la”... Ela não gostou nem um pouco daquele termo. Depois de tantos rituais de troca e eventos de sangue que participou não tinha medo de um cara daqueles, mas morrer para um monge estuprador sem descobrir o mistério de sua vida e matar Cream era um pensamento que jamais passou na mente dela. 
- Escute, temos pouco tempo – disse Sabbath, olhando diretamente para ela – eu tenho um plano, mas preciso que você me diga o quanto trocou para conseguir ter poder. 
Era questão de vida e morte agora, não tinha razão para esconder. Makalister revelou tudo que trocou para chegar até ali, e depois de ouvir a resposta, Sabbath – com a cara ensanguentada e o corpo cortado – sorriu, ela tinha muito mais do que ele havia pensado. Mais do que o necessário para fugir dali. 

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